segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

GREMIO VENCE GRENAL DE VIRADA.

Renato Gaúcho mandou o Grêmio 'para dentro' do Inter no Gre-Nal


Por telefone, técnico transmitiu ao auxiliar Roger as orientações táticas


Por Eduardo Cecconi -GLOBO.COM
Porto Alegre


 Domingo não foi um dia de folga para Renato Gaúcho. Engana-se quem pensa que o treinador do Grêmio abdicou da viagem a Rivera, na fronteira do Uruguai com o Brasil, para descansar em Porto Alegre. Da capital gaúcha, ele tomou as principais decisões que levaram o time reserva tricolor à vitória sobre o Internacional B por 2 a 1, no clássico Gre-Nal 384 disputado no Estádio Atílio Paiva, pela quinta rodada do Campeonato Gaúcho.
Renato vestiu até uniforme, como se estivesse no local da partida. Usou a camisa azul da comissão técnica gremista, a mesma com a qual é visto à beira do gramado. No quarto do hotel onde mora desde o retorno a Porto Alegre, no início de agosto de 2010, assistiu ao confronto pela televisão. Após, em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, contou como funcionou o trabalho da comissão técnica.
À distância, fez do telefone celular seu instrumento de trabalho. Ainda antes de iniciar a partida, conversou não apenas com o auxiliar Roger, que o representaria no campo. Também falou com o zagueiro Vilson, capitão da equipe. Gripado, com febre e dor de garganta, ele não se via em boas condições. Mas foi convencido a jogar:
- Vai jogar, sim. Tenta até onde der, sem problemas.
E Vilson atendeu ao pedido do treinador. Atuou durante todo o primeiro tempo, com a braçadeira de capitão, e deixou o Gre-Nal no intervalo, substituído por Willian Magrão. Estava exausto.
Foi Renato quem elaborou a troca. Ainda antes, aos dez minutos, fez o primeiro contato com Roger, passando instruções.
- Estávamos deixando o Inter girar as jogadas sobre os nossos zagueiros e passar pelos lados. Falei para corrigirmos isso. Depois, fomos conversando direto pelo telefone - explicou.
O Grêmio começara no sistema 4-2-3-1, implementado por Renato no treino tático da sexta-feira à tarde. Com Adilson e Mateus Magro na primeira linha do meio-campo, atrás de Mithyuê, Maylson e Diego Clementino. Apesar do predomínio inicial, desperdiçando chances - a melhor delas com Diego - foi ao vestiário parcialmente derrotado por 1 a 0, gol sofrido aos 38.
Sem Vilson, Renato planejou a mudança tática. Willian Magrão entrou no meio-campo pela direita, com Adilson na esquerda. Mateus Magro desceu para a primeira função, e Mithyuê centralizou, desenhando um losango. Diego Clementino, no ataque, completou o 4-4-2. Mário Fernandes tornou-se zagueiro, e Maylson passou para a lateral.
O efeito dominó de reposicionamentos foi decisivo. Combinada à conversa de Roger, destacando aos jogadores a importância do clássico e a relevância de uma virada para tantos garotos identificados com o clube e à frente de boas oportunidades na carreira, a mudança tática alojou o Grêmio no campo do Inter. Aos 13, em cobrança de falta com Bruno Collaço, chegou o empate.
De imediato, Renato Gaúcho voltou ao telefone. Poderia ter pedido que Roger, conquistado o 1 a 1, pensasse em segurar o resultado. Mas não. Contrariou a lógica defensivista e orientou, com todas as letras possíveis:
- Chama o Lins. Coloca o terceiro atacante. Tira o Mithyuê. Vamos para dentro deles. Vamos ganhar esse Gre-Nal. Chama o Lins e vamos para dentro deles - reiterou.
Roger desligou o telefone e sinalizou para o camisa 18, que fazia os exercícios de aquecimento. Mithyuê deu lugar ao atacante. Do 4-2-3-1 inicial, passando pelo 4-4-2 em losango, Renato Gaúcho agora arriscava tudo no 4-3-3.
Sete minutos depois de pisar no gramado, Lins aproveitou-se de falha da zaga colorada, dominou e marcou o gol da vitória: 2 a 1 para o Grêmio, de virada.
- Técnico não pode ter medo. Tem que ter coragem. Pedi para o Roger colocar o terceiro atacante porque eu vi que o Inter tinha sentido o gol, vi que a gente podia ganhar. Não podemos ter medo. Quem tem medo de perder, perde a vontade de ganhar. Tivemos coragem, fomos para dentro, e vencemos - comemorou, ao final.
Ainda no Atílio Paiva, Roger falou o mesmo: passou as instruções à beira do campo, motivou os jogadores, corrigiu posicionamentos e movimentos. Mas as decisões táticas e as substituições chegaram a ele via telefone.
- O planejamento foi feito em conjunto. O comandante principal é o Renato, mas durante os 90 minutos eu atuei com intensidade à beira do campo, posicionando, motivando os atletas, corrigindo equívocos. Me sinto parte importante desse contexto. O primeiro tempo foi equilibrado, como todo clássico. Saímos atrás, voltamos para o intervalo com o problema do Vilson, que não estava se sentindo bem. O Renato optou por colocar o Magrão e redistribuir a equipe. Voltamos diferente, mas com a mesma intensidade e conseguimos a virada - explicou Roger.

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